Teus passos infantis eu sigo em meu fadário, vivendo aqui em teus braços, pensando em suavizar, na estrada do calvário, os Teus últimos passos!...Pequena Via e Santidade!

-Santa Terezinha-

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"As lágrimas negadas"

 

Fechei-lhe os olhos, e uma tristeza imensa invadiu-me o coração, e já me ia desfazer em lágrimas; ao mesmo tempo, meus olhos, obedecendo ao enérgico poder de minha vontade, fechavam sua fonte até secá-la. Como foi angustiosa essa luta! E foi quando ela deu o último suspiro, que o meu filho Adeodato rebentou em soluços; mas, instado por todos nós, se calou.
Deste modo sua voz juvenil, voz do coração, calou em mim essa espécie de emoção pueril que me provocava o pranto. De fato, não julgávamos correto celebrar aquele funeral com lágrimas e choro, pois tais demonstrações deploram geralmente o triste destino dos que morrem, ou sua total extinção. A morte de minha mãe não era uma desgraça, e ela não morria para sempre, e disto estávamos certos pelo testemunho de seus costumes, por sua fé sincera e outras razões inequívocas.Que era então o que tanto me pungia, senão a ferida recente causada pelo rompimento repentino de nosso dulcíssimo e querido convívio? Era para mim grande consolação o testemunho que dera de mim, quando nesta última enfermidade, respondendo com ternura às minhas atenções, chamava-me de bom filho, e recordava com grande afeto o nunca ter ouvido de minha boca uma só palavra dura ou injuriosa contra ela. Entretanto, o que era, meu Deus e meu Criador, a solicitude que eu lhe tributava, em comparação com o devotamento servil que por mim suportava? Por me ver privado de tão grande consolo, sentia a alma ferida e minha vida, que era uma só com sua, estava despedaçada.
Reprimido o pranto do Adeodato, Evódio tomou o saltério e começou a cantar um salmo, ao que todos respondíamos “Misericórdia e justiça te cantarei Senhor”. Conhecia a notícia de sua morte, acorreram muitos irmãos e mulheres piedosas e, enquanto os encarregados dos funerais faziam seu ofício conforme o hábito, retirei-me para um lugar conveniente, junto com os amigos que julgavam oportuno não me deixar só. Falava sobre assuntos próprios das circunstâncias, e com o lenitivo da verdade mitigava meu sofrimento, só conhecido por ti. Eles o ignoravam e me ouviam atentamente, julgando que não sofria nenhuma dor. Mas eu, pertinho de teus ouvidos, onde ninguém me podia escutar, censurava a minha sensibilidade e fraqueza e reprimia a onda de tristeza que me invadia; esta cedia por uns instantes, e novamente me arrastava com seu ímpeto, embora não chegasse a derramar lágrimas ou alterar a face. Somente eu sabia quão oprimido estava meu coração! E como me desgostava profundamente que as vicissitudes humanas tivessem tanto poder sobre mim, que são inelutáveis pela ordem natural e a sorte de nossa condição; minha própria dor causava-me outra dor, e me afligia com dupla tristeza.
Quando o corpo foi levado à sepultura, fui e voltei sem derramar uma lagrima. Nem mesmo nas orações que te fizemos, quando oferecemos o sacrifício de nossa redenção por intenção da morta, cujo cadáver jazia junto ao sepulcro antes de ser inumado, como ali é costume, nem mesmo nessas orações, chorei. Mas durante todo o dia andei oprimido por grande tristeza interior; pedia-te como podia, com a mente perturbada, que aliviasses minha dor. Mas não me atendias, sem dúvida para que fixasse, bem na memória, ao menos por esta única experiência, como são poderosos os laços do costume, mesmo em uma alma que já não se alimentava de palavras enganadoras. Lembrei então a ir aos banhos, por ter ouvido dizer que a palavra banho (bálneo, em latim) vinha dos gregos, que o chamaram
balanéion (tirar fora a ania), porque o banho aliviava as tristezas da alma.

Mas eu o confesso à tua misericórdia – ó Pai dos órfãos: depois do banho fiquei como estava antes, porque meu coração não expulsou o amargor de sua tristeza. Depois adormeci. Ao despertar, minha dor estava mitigada; só, em meu leito, lembrei-me dos versos cheios de verdade de teu Ambrósio. Porque, na verdade



"Tu és Deus, criador de quanto existe,
De todo o mundo supremo governante,
Que o dia vestes com tua luz brilhante,
E de sonhos gratos a noite triste
A fim de que os membros cansados
O descanso ao trabalho prepare
E as mentes cansadas, repare
E os peitos de pena oprimidos"

Depois, pouco a pouco voltava aos sentimentos de antes sobre tua serva. Recordava de sua piedade para contigo, de sua solicitude e paciência comigo, da qual subitamente me via
privado. E senti consolação em chorar diante de ti, por causa dela e por ela, e por minha causa e por mim. E deixei que as lágrimas reprimidas corressem à vontade, estendendo-as como um leito reparador sob meu coração. Teus ouvidos eram os que ali me escutavam, e não os de nenhum homem, que pudesse interpretar com soberba meu pranto. E agora, Senhor, to confesso nestas linhas: leia-o quem quiser, interprete-o como quiser. E se alguém julgar que pequei nessas lágrimas, que derramei sobre minha mãe por alguns instantes, por minha mãe então morta a meus olhos, ela que me havia chorado tantos anos para que eu vivesse aos teus olhos, não se ria. Antes, é grande sua caridade, chore por meus pecados diante de ti, Pai de todos os irmãos de teu Cristo!


Confissões - Santo Agostinho - após a morte de sua querida mãe Santa Mônica.

sábado, 16 de julho de 2011

"Passo a passo para uma boa oração"


Frei Patrício Sciadini, ocd.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

"Deus move-se entre os tachos"



Tudo começa por uma afirmação de Santa Teresa no «Livro das Fundações». É a última obra que ela escreveu, reunindo materiais muito diversos, colhidos ao longo de anos. O tom geral é o de um livro de memórias: relata diálogos, sublinha encontros e desencontros, anota datas e peripécias, desfia confidências… À sua maneira, talvez seja o volume que melhor reflita a humanidade de Santa Teresa: o seu gosto de contadora de histórias, a sua sabedoria temperada de humor, a invulgar capacidade que ela tinha de penetrar os corações.

No capítulo V, 7-8, deparamo-nos com este relato: «…Uma pessoa com quem falei há poucos dias. Havia quinze anos que a obediência a trazia tão ocupada em ofícios e governos que, em todo este tempo, não se recorda de ter tido um só dia para si …Bem lhe pagou o Senhor pois, sem saber como, achou-se com aquela liberdade de espírito tão apreciada e desejada que têm os perfeitos e na qual acham toda a felicidade que nesta vida se pode desejar. […] E não só esta pessoa, mas outras ainda conheci a quem aconteceu da mesma sorte. Não as via há bastantes anos; e, perguntando-lhes eu em que os haviam passado, me diziam que todos em ocupações de obediência e caridade. Por outro lado, achava-as tão medradas em coisas espirituais que me espantavam. Eia pois, filhas minhas! Não haja desconsolo quando a obediência vos trouxer empregadas em coisas exteriores. Entendei que até mesmo na cozinha, entre as caçarolas, anda o Senhor…»
Santa Teresa fala de pessoas que têm uma vida muito ativa, dispersa numa multiplicidade de empenhos, e que, no entanto, conseguem uma vitalidade espiritual. Há, de facto, um mal-entendido de séculos que opõe, no interior da nossa cultura, para não dizer da nossa própria consciência, a contemplação à ação. Como se a vida ativa necessariamente nos desertificasse, atirando-nos para longe de nós próprios e de Deus. Ora, falando às suas irmãs contemplativas, Santa Teresa critica esta ideia e diz que a exterioridade pode até fecundar a experiência espiritual mais profunda. Mesmo o gesto exterior mais comezinho ou ínfimo, mesmo os gestos sem nenhum relevo como são os da rotina da cozinha (serão mesmo sem relevo?), ainda esses devem ser compreendidos de outra forma, pois o Deus Todo-Poderoso, o Grande Senhor do Universo move-se pela nossa cozinha, entre púcaros, vasilhas e panelas. Fomos habituados a pensar a vida espiritual como uma representação, um enredo que se passa unicamente num espaço nobre e ordenado, um intervalo sobreposto à vida. A existência quotidiana, ínfima, banal, rotineira achamos que não é para Deus, nem a consideramos capaz de ligar-nos a isso que é o sagrado. Contudo, diz-nos Santa Teresa: “Deus move-se entre os tachos”.

José Tolentino Mendonça

terça-feira, 12 de julho de 2011

"1946: O ano em que lançaram o biquini"



A editora de moda Diana Vreeland escreveu:
O biquíni é a invenção mais importante deste século (20), depois da bomba atômica.
De fato, o próprio nome (biquini) vem de uma explosão no atol do Pacífico, quando bombas atômicas foram testadas lá pelos Estados Unidos. A criação do biquíni é disputada por dois estilistas franceses: primeiro, Jacques Heim apresentou o “átomo” como “o menor maiô do mundo”; em seguida, Louis Réard mostrou o “bikini, menor que o menor maiô do mundo” e ficou com a fama do criador da peça [wikipedia].

Como escreveu alguém na época, todas as zonas erógenas [a exceção da intimidade propriamente dita] estão expostas com o uso do biquini – e até mesmo a intimidade não está livre de aparecer, com os movimentos de uma pessoa na praia. É a mais completa negação do pudor, pois torna todas as definições dele inúteis. Se alguém usa esta peça, já não deve se preocupar com saias curtas, decotes reveladores, calças apertadas… na praia se revela praticamente tudo.
Há cerca de 2 anos escrevi um texto para o apostolado Moda e Modéstia chamado “Moda Praia: Moral de situação?” , que contava um pouco da história do biquini. Algumas moças não gostaram nada dele, pois elas mesmas – católicas, diga-se – reivindicavam o direito da nudez, duramente conquistado pelas strippers e prostitutas. Sim: pois somente elas se arriscaram a usar a peça na época. Eis um trecho do que escrevi:
A católica olha para o biquíni em cima da sua cama – aquelas duas peças tão pequenas! – e ainda sente dúvida se deve voltar a aparecer na frente de quem quer que seja com ele. Ela ignora completamente como aquilo surgiu, como foi motivo de escândalo, como ele diminuiu incrivelmente desde a sua criação, como somente as strippers (!!) aceitaram fazer a divulgação desta peça na ocasião do seu lançamento, numa época em que mesmo as modelos liberadas se recusaram a fazer a publicidade dele. E hoje, uma mãe de família, uma católica, uma devota de Nossa Senhora, faz pior do que a stripper Micheline Bernardini e usa-o tranquilamente nas praias e piscinas, entre amigos e estranhos.
Micheline Bernardini foi a stripper de 19 anos [que provavelmente se prostituía desde criança] : a única que, na época do lançamento, aceitou aparecer em público com a peça – nada difícil para alguém que ganha a vida tirando a roupa.

Se alguém reivindica o direito de usar o biquini – sob o pretexto de que os tempos são outros -, deveria igualmente se questionar porque em 1946 e em 2011 as strippers continuam sendo aquelas que tiram a roupa em boates e coisas do gênero por dinheiro, enquanto as mães de família mudaram radicalmente. Sob a visão de uma católica que exige – é o termo mais apropriado – usar esta imoral roupa de banho, a mulher devota desceu ao nível da stripper, pois o biquini continua o mesmo (na realidade, ele diminuiu) e as mulheres que tiram a roupa também.
Na verdade, a despeito do mundo, as católicas dignas deste nome, que tem amor à Santíssima Virgem e a Seu Divino Filho, continuam as mesmas, pois 6o anos não são capazes de reduzir a sua alta dignidade à nível tão baixo. Todas nós podemos, com um pouco de boa-vontade e bom senso, perceber quais atitudes combinam com pessoas que buscam a santidade, e quais combinam com aquelas que preferem os parâmetros deste mundo pagão.

Consultei alguns livros de moda e artigos na internet sobre o lançamento do biquini, e todos eles são unânimes em afirmar que, na época do lançamento, o Papa Pio XII assinou uma nota emitida pelo Vaticano condenando o biquini e proibindo todas as católicas de usá-lo. Infelizmente, nunca encontrei esta nota, embora eu acredite que ela exista, pois para além do Papa Pio XII ter escrito diversas coisas sobre a modéstia cristã, esta atitude é de todo coerente com a moral da igreja. Se a nota de fato existir, significa que, para além de ser bastante óbvio que a peça é inaceitável, houve uma proibição oficial vinda de um Papa, proibição esta que jamais foi desautorizada. Em outras palavras, católicas que fazem uso do biquini hoje, e por isso estimulam seu uso, pecam gravemente contra esta ordem.

A maioria das mulheres sente que não é normal aparecer diante dos outros vestindo quase nada. Que mulher pode dizer que nunca se sentiu constrangida por causa do maiô ou do biquini? Qual de nós pode dizer que nunca sentiu vergonha do próprio corpo e quis desesperadamente emagrecer para voltar a frequentar a praia? Quem nunca evitou ir à praia com alguns conhecidos, por constrangimento de revelar as formas? Na praia todos querem o impossível: um anonimato que atraia os olhares de admiração dos estranhos e a mais completa fuga de Deus, que está em todos os lugares, e não apenas nas igrejas, na hora da Santa Missa.
Possamos nós, católicas devotas de Nossa Senhora, entender o que é ser realmente modesta aos olhos de Deus, e não sejamos mais um espinho na coroa de Nosso Salvador. Jesus Cristo morreu por nós e nos resgatou das imundas mãos do Demônio: eis o altíssimo preço que nós custamos. Nós valemos muito, muito mais do que desejam nos reduzir: mais do que uma stripper, com certeza.

Que Nossa Senhora, a Rainha Absoluta da Modéstia, interceda por nós – e terrível como exército em ordem de batalha, venha para esmagar as modas indecentes deste mundo: pois não duvidamos de que, uma vez que em 1917 Nossa Mãe falou sobre as modas imorais, um dos castigos de Fátima seja justamente punir a lama de imodéstia na qual o mundo está afundando. Ave Mater Modestissima, ora pro nobis!

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O blog "Teus vestidos" traz para as mulheres católicas os estilos que mais agradam a Deus e uma forma de se vestir bem sem ser vulgar, sendo portanto, dignas filhas do bom Deus! Recomendo! :D

"Mães Boas, Filhos Santos"



Vão aqui alguns exemplos mais conhecidos. S. Agostinho, filho de S. Mônica; S. João Crisóstomo, filho de S. Antusa; S. Gregório Magno, fiiho de S. Sílvia; S. Basílio, S. Gregório Nisseno, S. Pedro de Sebaste e S. Macrina, filhos de S. Emélia; S. Bento, filho de S. Nona; S. Bernardo, filho, de S. Alata; S. Domingos de Gusmão, f:lho de S. Joana de Aza; S. Catarina de Suécia, filha de S. Brígida, etc.

(Tesouro de Exemplos, pág. 242)

 
Esses exemplos reforçam a frase do grande Papa  São Pio X: Dai-me mães verdadeiramente cristãs e eu salvarei o mundo decadente”.

"Frases dos Santos"



"Como é grande a bondade do divino Prometido e como parece refulgir mais na obscuridade da prova!"

Beata Elizabeth da Trindade

quarta-feira, 6 de julho de 2011

"Vestido Celestial"





Caía a noite. Em sua celazinha cheia de sombra, S. Catarina de Sena pensava na festa que terminava. Via os estandartes agitados pelos jovens; via a multidão apinhada no campo sob o sol de verão, os palcos repletos de luxuosas damas.
Naquele momento começou o demônio a tentâ-la. "Também tu, Catarina, poderias estar com êles. Por que cortaste teus cabelos louros, por que trazes o cilício sôbre o teu corpo delicado,por que queres fazer-te religiosa
Olha êste vestido, não é mais lindo que o místico hábito claustral?" Na dúbia claridade da noite, a Santa julgou ver diante de si um jovem que lhe apresentava um rico vestido feito de pétalas de rosas. Enquanto Catarina estava como que suspensa, apareceu-lhe Maria Santíssima.Como o tentador, também ela trazia nos braços um esplêndido vestido bordado a ouro e pérolas, radiantes de pedras preciosas". Deves saber,minha filha, disse a Mãe de Jesus com voz dulcíssima que os vestidos tecidos por mim no coração de meu Filho, morto por ti, são mais preciosos que qualquer outro vestido trabalhado por outras mãos que náo as minhas"
Então Catarina, ardendo em desejo de possuí-lo e tremendo de humildade,inclinou a cabeça e a Virgem vestiu-a com a túnica celestial. O demônio apresenta-se às almas com seu vestido de rosas e prazeres carnais; Maria, ao contrârio, com seu vestido de pureza e santidade. Dai preferência a êste último; somente com ele podereis entrar no céu.

(Tesouro de Exemplos, pág. 177)

terça-feira, 5 de julho de 2011

"Missa com o Papa instruíndo os fiéis para que não batam palmas durante a celebração"


Reporto vos a instrução referida aos fiéis ante a Santa Missa presidida por sua Santidade o Papa Bento XVI em visita pastoral a Aquileia e Veneza. São ordens curtas e ao mesmo tempo profundas em seu alcance. Ouçamos com atenção. Para pondo em prática prestar um culto magnânimo e perfeito ao Altíssimo Deus.
Eis a tradução: "Em respeito destes Divinos Mistérios que estamos celebrando em comunhão com Sua Santidade o Papa Bento XVI, recolhamo-nos em silêncio orante. Portanto, não se aplauda mais, nem sequer durante a homilia, e não se usem bandeiras, nem cartazes."

Faz necessário lembrar aos modernos e proguessistas a Santa Missa é renovação incruenta do sacríficio da cruz. Nosso culto perpassa a imolação do Cordeiro de Deus. Sacrifício em expiação dos pecados. Adoração a majestadde altíssima do Senhor. Ação de graças pela bondade e amor que Deus nos deposita. Oferta agradável para aplacar a justiça divina. A humanidade e o mundo inteiro definharia sem a Santa Missa.

As profecias todas apontam para os tempos de hoje. Desta banalização. Dos divinos mistérios sendo rebaixados. Desta claque de zumbis que não sabem o que celebram. De maus pastores a deixar as ovelhas atônitas. É a abominação da desolação conforme predisse o profeta Daniel e está em Mateus 24. Leiam e meditem nete capítulo do evangelho. Estamos quase no auge dele. Quando todo ele se consumar.

Nosso Senhor Jesus virá em toda sua majestade e justiça. Separar o joio do trigo. As ovelhas dos cabritos. Então há de vir a cidade de Deus. A menina dos olhos do Pai irá se implantar. Qual posteridade há de vir. Quantos dons haverá de encher a terra. Quantos hão de aparecer. Quais belezas despontaram a impressionar tantos. Qual amor a ser vivído. Quais tantas perfeições nutriram nossa busca. Ó Deus infinito. O Apostólo bem o disseste que olhos não viram. Os ouvidos não ouviram. O coração humano jamais experimentou o que Deus tem preparado para aquele O amam.

O Espírito Santo conduza vos aos divinos mistérios. Ao conhecimento de Deus. Pois só se ama o que se conhece.

"Sermões de Cura D'ars ( São João Maria Vianney) Parte I"



NÃO SOMOS NADA POR NÓS MESMOS

Sobre as Tentações


As tentações são necessárias para que possamos perceber que não somos nada por nós mesmos. Santo Agostinho diz-nos que deveríamos agradecer a Deus tanto pelos pecados dos quais Ele nos preservou como pelos pecados que Ele por caridade nos perdoou. Caso venhamos a cair nas ciladas do demônio, nós pensamos que somos capazes de nos levantarmos novamente, confiando muito mais nas nossas promessas e resoluções do que na força de Deus. Isto é uma grande verdade!


Quando nós não temos nada do que nos envergonhar, quando todas as coisas estão correndo bem e de acordo com os nossos desejos, nós ousamos pensar que nada poderia nos derrubar. Nós esquecemos facilmente do nosso próprio nada e de nossa fraqueza interior. Chegamos mesmo a protestar, que estamos prontos a morrer do que permitirmos sermos vencidos. Nós vemos o esplêndido exemplo de São Pedro, que disse ao Senhor que ainda que todos se escandalizassem Dele, ele não se escandalizaria. Coitado! Para mostrar-lhe, como o homem entregue às suas próprias forças, não é absolutamente nada, Deus fez uso, não de reis, príncipes ou armas, mas sim da voz de uma simples empregada na noite da prisão de Jesus, que confrontou Pedro com um monte de interrogações. E nesse momento Pedro protesta dizendo que nem sequer conhecia o Senhor, e fez de contas que nem sabia do que ela estava falando. Para assegurar aos presentes, de um modo ainda mais veemente de que ele não conhecia Jesus, ele chegou mesmo a jurar! Ó Senhor, o que não somos capazes de fazer quando nós estamos entregues a nós mesmos!


Existem pessoas, que fazem questão de dizer, o quanto eles invejam os santos que fizeram grandes penitências! Eles chegam a acreditar que poderiam fazer o mesmo! Às vezes quando lemos sobre a vida de alguns mártires, nós gostaríamos, nós pensamos, estarmos prontos para sofrer tudo que eles sofreram por amor a Deus. Chegamos ao ponto de pensar: é um momento de sofrimento muito curto para a recompensa que vamos receber no Céu! Mas o que faz Deus para nos ensinar a nos conhecermos, ou melhor, para reconhecermos que não somos absolutamente nada? Eis o que Ele faz: Ele permite que o demônio se aproxime um pouquinho mais de nós. E nesse momento, veja o que acontece com os cristãos que há apenas uns minutos atrás invejavam aquele eremita que vive retirado no deserto, alimentando-se somente de ervas e raízes e que fez a firme resolução de submeter seu corpo a duras penitências. Coitado! Uma leve dor de cabeça, a simples espetada de um espinho, o faz se condoer todo por si próprio! Não importando o quão grande e forte ele possa aparentar. Ele se aborrece, reclama da dor. A poucos momentos atrás, estava disposto a fazer todas as penitências dos anacoretas (monges do deserto) e agora, o menor contratempo o faz cair no desespero! Agora vejamos esse outro cristão, que parece querer entregar toda sua vida a Deus. Que possui um ardor que tormento algum poderia apagar! Um pequeno escândalo... uma palavra de calúnia... e até mesmo uma fria receptividade ou pequena injustiça cometida contra ele... uma gentileza retribuída com ingratidão... imediatamente desperta nele todos os sentimentos de ódio, vingança e descontentamento, a ponto de freqüentemente, ele desejar nunca mais ver o seu próximo ou pelo menos tratá-lo de um modo frio, de forma a demonstrar o quanto aquela pessoa o ofendeu. E quantas vezes, isso se torna o seu primeiro pensamento ao acordar, assim como o pensamento que sempre o impede de dormir em paz?


Coitado!


Meus caros amigos, nós somos umas coisas pobres, e por isso deveríamos contar muito pouco com nossas próprias resoluções.


Cuidado se você não sofre tentações!


A quem o demônio mais persegue? Talvez você ache que as pessoas que são mais tentadas, são indubitavelmente, os beberrões, os provocadores de escândalos, as pessoas imodestas e sem vergonha que deitam e rolam na sujeira e na miséria do pecado mortal, que se enveredam por toda espécie de maus caminhos. Não, meu caro irmão! Não são essas pessoas! Ao contrário, o demônio os deixa de lado, ou seja ele se apóia nelas enquanto elas vivem, porque do contrário ele não teria tanto tempo para fazer o mal. Isso porque, quanto mais tempo essas pessoas viverem, mais seus maus exemplos arrastarão outras almas para o Inferno. De fato, se o demônio tivesse perseguido esse velho companheiro obsceno e sem-vergonha, ele teria encurtado a duração de sua vida em 15 ou 20 anos, de forma que ele não teria destruído a virgindade daquela garota ali, seduzindo-a para a inominável mira de suas indecências. Ele não teria novamente seduzido aquela mulher casada e nem ensinado suas más lições àqueles rapazinhos, que talvez as continue a praticar até o final de suas vidas. Se o demônio tivesse incitado a este ladrão ali na frente, a roubar em tudo quanto é ocasião, ele teria ido acabar na forca e não teria tempo pra induzir seu vizinho a seguir seu mau exemplo. Se o demônio tivesse encorajado esse beberrão ali, a se embebedar incessantemente com o vinho, ele já teria morrido a muito tempo atrás nas suas libertinagens, e não teria tempo de fazer com que outros seguissem seu mesmo caminho. Se o demônio tivesse tirado a vida deste músico ali, ou daquele organizador de bailes, ou daquele dono de cabaré, em algum tipo de tumulto ou assalto, ou em qualquer outra ocasião, quantas almas não seriam poupadas da danação eterna! Santo Agostinho nos ensina que o demônio não importuna muito essas pessoas; pelo contrário, ele até as despreza e cospe sobre elas. Assim, você me perguntaria: então quem são as pessoas mais tentadas? São estas meus caros amigos, observem-nas atentamente. As pessoas mais tentadas são aquelas que estão prontas, com a graça de Deus, a sacrificar tudo pela salvação de suas pobres almas, que renunciam a todas as coisas que a maioria das pessoas buscam ansiosamente. E não é um demônio só que as tenta, mas milhões de demônios procuram armar-lhes ciladas. Uma vez, São Francisco de Assis e todos os seus religiosos estavam reunidos numa área plana e aberta, onde eles tinham erguido algumas choupanas de palha .Buscando um meio de fazer com que todos fizessem penitências extraordinárias, São Francisco ordenou que fossem trazidos todos os instrumentos de penitência, e seus religiosos os trouxeram aos feixes...[...]. Continuaa..




(Livro - SERMÕES DE São João Maria Vianney - O Cura Dars)